Capa do livro Minhas Memórias Sensíveis

Minhas Memórias Sensíveis

A história de vida de Professor Jozenei Silva Pereira

Um relato de fé, sensibilidade, dor, superação e legado.

Autor: Professor Jozenei Silva Pereira

Relato autobiográfico construído a partir de memórias pessoais,
depoimentos de família e experiências espirituais e profissionais.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Pereira, Jozenei
Minhas memórias sensíveis [livro eletrônico] / Jozenei Pereira. — Alagoinhas, BA: Ed. do Autor, 2025.
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ISBN 978-65-01-82905-0

1. Memórias autobiográficas
2. Pereira, Jozenei
3. Professores – Autobiografia
4. Superação – Histórias de vida
I. Título.

Índices para catálogo sistemático:
1. Professores: Autobiografia — 370.9

Eliete Marques da Silva – Bibliotecária – CRB-8/9380

Alagoinhas – Bahia

2025

Sumário

Apresentação

Este livro nasceu da necessidade de organizar, em palavras, aquilo que sempre viveu em mim em forma de sensação, silêncio e sobrevivência. Durante muitos anos, carreguei minhas histórias como quem guarda fotografias em uma caixa: escondidas, mas sempre presentes. Em algum momento, entendi que não poderia seguir em frente sem olhar com respeito para o menino que eu fui e para o homem que me tornei.

Minhas Memórias Sensíveis é um relato de fé, dor, trabalho, espiritualidade e amor. Não escrevo para buscar culpados, nem para dramatizar sofrimento, mas para mostrar que a sensibilidade, quando acolhida e compreendida, pode se tornar caminho de cura e de legado.

Prefácio

Escrever este livro não foi apenas um exercício de memória — foi um reencontro comigo mesmo. Durante muitos anos, carreguei minhas histórias em silêncio, como quem guarda fotografias que ninguém nunca viu, mas que fazem parte de tudo o que sou.

Algumas dessas lembranças doeram. Outras me emocionaram. Algumas me fizeram reconhecer que sobrevivi a momentos que, ainda hoje, não sei explicar como suportei. E muitas me mostraram o quanto a sensibilidade, tão presente desde a infância, foi mais do que uma característica: foi proteção, foi guia, foi força.

Nas páginas que seguem, compartilho memórias que começam muito antes de mim — nas histórias contadas pela minha avó paterna, nas dificuldades enfrentadas por meus pais, no contexto familiar em que fui criado — e que se estendem até a vida adulta, quando decidi quebrar ciclos, perdoar e construir um novo caminho.

Não escrevo para reabrir feridas, mas para mostrar que o passado, mesmo quando doloroso, pode ser ressignificado. Escrevo porque acredito que o amor pode chegar tarde, mas, quando chega, cura. E porque acredito que a sensibilidade não é fraqueza — é sabedoria.

Professor Jozenei Silva Pereira
Autor

Introdução

A memória é uma casa com muitas portas. Algumas se abrem facilmente; outras resistem, como se guardassem segredos que ainda não estamos preparados para revisitar. Ao escrever este livro, precisei abrir cada uma delas — algumas com leveza, outras com coragem. E, ao atravessar esses cômodos da minha história, compreendi que não existe passado pequeno quando ele molda quem nos tornamos.

As páginas que seguem são fruto de uma vida real, marcada por desafios que começaram cedo demais e por afetos que poderiam ter faltado. São lembranças que guardam tanto a dor quanto o aprendizado; tanto o trauma quanto a superação; tanto o abandono quanto o reencontro.

Cresci entre duas casas — a da frente e a do fundo — e foi nessa dualidade que aprendi que a vida não é feita apenas do que nos acontece, mas do que fazemos com aquilo que nos acontece. Entre perdas, responsabilidades precoces, trabalho infantil, amor de avó, conflitos familiares e uma sensibilidade que sempre esteve presente em mim, encontrei caminhos que hoje reconheço como fundamentais para a minha formação como homem, pai, educador e ser humano.

Esta obra não tem a intenção de justificar erros, apontar culpados ou romantizar sofrimentos. Ela existe para dar sentido. Existe para organizar o que fui, compreender o que me tornei e honrar aqueles que me ajudaram a permanecer de pé — especialmente minha avó paterna, que, com suas mãos calejadas e fé incansável, sustentou mais do que meu corpo: sustentou meu espírito.

Ao registrar esta trajetória, desejo que cada leitor encontre, nas linhas deste livro, um espelho ou uma janela: um espelho para quem viveu dores parecidas e busca ressignificar sua história; uma janela para quem deseja compreender realidades diferentes da sua e desenvolver sensibilidade e empatia.

Agradecimentos

Agradeço, antes de tudo, a Deus, que me sustentou nos dias em que faltaram forças, que iluminou os caminhos quando tudo parecia escuro e que me permitiu transformar dor em aprendizado, quedas em crescimento e dificuldades em fé.

Agradeço profundamente à minha avó paterna, que foi mais do que avó: foi mãe, guia, abrigo, educadora, companheira e amparo. Foi ela quem me segurou nos primeiros dias de vida, quem acreditou em mim quando eu ainda não compreendia o mundo, quem me ensinou valores, coragem, respeito e dignidade. Este livro existe, em grande parte, porque ela existiu.

Agradeço à minha mãe, pela vida que me deu e pela história que também carregou. Hoje compreendo que a depressão pós-parto que a afastou de mim não foi escolha, mas sofrimento não tratado. Reconheço suas limitações e entrego nossa relação ao tempo e a Deus.

Agradeço à minha família — esposa, avó materma, pais, irmãos, irmã, tios, tias, primos, primas, amigos e amigas — que contribuíram para a construção da minha sensibilidade e da minha visão de mundo. Agradeço, em especial, a minha tia que desde o início de sua pré-adolecência cuidou de mim com amor, carinho e atenção, aos meus irmãos e irmã, por quem sempre carreguei o sentimento de responsabilidade e cuidado.

Aos meus filhos e à minha filha, meu agradecimento pela oportunidade diária de viver a paternidade de forma consciente e amorosa. Vocês são um dos maiores motivos pelos quais escolho ser melhor a cada dia.

Agradeço às instituições de ensino e aos alunos que fizeram parte da minha trajetória acadêmica e profissional. Cada sala de aula, cada pergunta, cada olhar atento me mostrou que ensinar é, também, uma forma de curar a própria história.

Capítulo 1 – O dia em que eu nasci

Minha história começou antes de mim. Começou nas escolhas feitas por meus pais, ainda jovens, e nas circunstâncias difíceis que atravessaram suas vidas antes que eu pudesse dar meu primeiro choro neste mundo. Sempre ouvi da minha avó paterna que meu nascimento não foi apenas um evento biológico — foi um acontecimento espiritual, emocional e familiar que reorganizou a vida de todos ao meu redor.

Um casamento empurrado pelo destino

Minhas origens remontam ao dia em que minha mãe, muito jovem, acompanhou uma amiga para um encontro. O rapaz com quem a amiga iria se encontrar era, ironicamente, irmão do meu pai. O que deveria ser apenas uma companhia tornou-se o ponto de inflexão de toda uma geração.

Minha mãe, aos dezesseis anos, tinha horário para voltar para casa: não poderia ultrapassar as 22h. Mas naquele dia, tomada pela preocupação, percebeu que já era tarde demais. Desesperada, disse ao rapaz — que viria a ser meu pai — que precisava voltar imediatamente. Ele, aos dezenove anos, sem pensar duas vezes, se ofereceu para levá-la de volta.

Quando chegaram, o pai dela não permitiu sua entrada. Disse que ela não poderia voltar para casa. Foi ali, naquele pequeno instante, que o destino tomou forma. Meu pai, ainda praticamente um desconhecido para ela, resolveu assumir a responsabilidade e propôs casamento.

Antes de mim, perdas e fragilidades

Antes de mim, minha mãe teve dois filhos. A primeira, uma menina, faleceu recém-nascida. O segundo, meu irmão, nasceu com complicações genéticas, só começou a andar aos dois anos e enfrentou dificuldades de aprendizagem. A dor pela perda da primeira filha e as preocupações com o segundo filho criaram um ambiente de fragilidade emocional ao redor da minha mãe muito antes de eu existir.

Profecias e previsões

Minha avó paterna contava que a mãe da minha mãe procurou uma vidente, que disse que eu nasceria muito magro e que meu pai teria de se desfazer de bens para garantir minha saúde. A previsão era de medo, escassez e sacrifício.

Minha avó paterna, porém, afirmava: “Ele vai ser o mais forte dos seus filhos. Vai nascer gordo.”

Nasci grande, pesado e em casa

Nasci em casa, no dia 07 de agosto de 1973, por volta das 5 horas da manhã, em um parto conduzido pela minha avó materna. Quando finalmente cheguei, contrariando as previsões de fraqueza, nasci com 5 quilos.

Aquele menino que supostamente seria frágil veio ao mundo grande, pesado e, sem saber, carregando uma missão: sobreviver e, mais tarde, transformar o que viveu em aprendizado.

A depressão pós-parto e a primeira separação

Poucos dias após o parto, minha mãe entrou em um quadro severo de depressão pós-parto. Ela não tinha condições emocionais ou psicológicas de cuidar de mim. Em sua confusão, desenvolveu um bloqueio afetivo profundo, que mais tarde se transformaria em perseguição e agressividade.

Com apenas cinco dias de vida, fui entregue definitivamente aos cuidados da minha avó paterna. Ela cuidou de mim e também do meu irmão, que acabara de completar um ano. Minha mãe, depois de algum tempo, retornou à casa da mãe dela com o meu irmão, enquanto eu permaneci com a minha avó.

Doença, fé e morte muito cedo

Com três anos, precisei raspar o cabelo por causa de feridas graves no couro cabeludo. Aos seis, fui internado após ingerir alimentos que me fizeram muito mal. O médico avisou à minha avó que me aplicaria uma injeção e que, se eu não acordasse, nada mais poderia ser feito. Ela entrou em desespero e recorreu à Virgem Maria.

Voltei para casa um dia depois e me deparei com a notícia da morte do meu irmão mais novo, que já tinha dois anos de idade e se locomovia se arrastando. Não sabíamos ao certo a causa da morte, apenas a certeza da perda. A vida e a morte se encontravam com frequência demais na minha infância.

A decisão de ajudar

Aos oito anos, disse à minha avó que iria trabalhar para sustentá-la, pois ela já era de idade avançada e não tinha mais condições de trabalhar tanto. Ela respondeu que eu precisava estudar, que quando fosse adulto poderia cuidar dela. Ainda assim, entre oito e dez anos, comecei a vender pastel com um primo para ajudar nas despesas.

Aos dez, comecei a trabalhar em uma oficina mecânica; até os doze, ajudava meu padrinho de batismo em sua barraca de fogos de artifício. A infância terminava cedo — mas ali começava também a construção do homem responsável que me tornei.

Capítulo 2 – As primeiras lembranças

Minhas primeiras lembranças não são feitas de brinquedos, nem de aniversários, nem de festas infantis. São feitas de sobrevivência. São feitas do cheiro de café passado pela minha avó, das mãos calejadas dela e do barulho da feira acordando antes do sol. Cresci entre a dureza da vida e o acolhimento dela — uma equação desigual que, ainda assim, me deu força para seguir adiante.

A casa onde morei com minha avó paterna era pequena: apenas dois vãos. Mas ali cabia tudo. Cabia a fé, o amor, o medo, o barulho do rádio velho, a panela de alumínio batendo no fogão, e cabia também a presença dos meus tios e tias, que entravam e saíam como quem procurava um porto temporário. Cada um carregava suas próprias dores, e minha avó acolhia a todos sem reclamar.

Palavras da minha avó: “Minha casa é pequena, mas meu coração tem espaço. Quem precisar, fica.”

Foi nesse pequeno espaço que aprendi a me adaptar às mudanças constantes. Um tio, dez anos mais velho que eu, morou conosco por um tempo. Depois foi a vez de minha tia — a que me criou desde os primeiros meses — até se casar em 1981 e ir morar em Camaçari. Outra tia, mais nova, voltava para casa sempre que sofria agressões do marido. A casa era feita de portas que se abriam para acolher os feridos do mundo.

Um menino que observava tudo

Cresci vendo discussões, agressões, lágrimas silenciosas. Mas cresci também vendo minha avó acordar cedo, trabalhar como feirante, carregar sacos pesados, vender legumes e ainda arrumar forças para me amar. Ali, minha sensibilidade foi se aguçando: eu percebia o clima da casa, sabia quando algo estava errado, sentia quando alguém precisava de ajuda.

Silêncio como proteção

Muitas vezes, em vez de brincar, eu me recolhia ao silêncio. Sentava perto do fogão de lenha e ficava apenas ouvindo o barulho do fogo. Era como se aquele silêncio me explicasse o que ninguém conseguia colocar em palavras.

Capítulo 3 – A casa, a rua e o bairro

A geografia da minha infância não era feita apenas de ruas e casas: era feita de sensações. Tudo tinha cheiro, som, temperatura, história. A casa da frente, a casa do fundo, a rua estreita que separava um mundo do outro, o bairro movimentado que parecia sempre acordado — tudo fazia parte da minha identidade.

Duas casas, dois mundos

A casa da frente era o lar da minha mãe, do meu pai e dos meus irmãos. Era maior, mais movimentada, mais cheia de gente. Mas não era meu lugar de segurança. Era o cenário de brigas, discussões, silêncios pesados e agressões.

A casa do fundo — onde vivi com minha avó — era pequena, simples e apertada. Mas era meu refúgio. Era onde eu dormia, onde comia, onde aprendia, onde crescia. Era onde eu existia com plenitude, mesmo com tão pouco.

A rua e o bairro

A rua era poeirenta no verão e enlameada no inverno, ao lado, o pequeno brejo que dava acesso a famosa Lagua Grande. A feira, aos domingos, era o coração do bairro: feirantes gritando ofertas, cheiros de frutas, verduras, café torrado, vozes misturadas. A Venda (nome dado a pequena mercearia) da esquina completava esse pequeno universo. Cada lugar carregava uma memória e um ensinamento.

O menino silencioso do fundo

Entre a casa da frente e a casa do fundo, vivi como um observador. Minha sensibilidade se formou nesse contraste: de um lado, tensão; de outro, acolhimento. Aprendi a perceber o clima antes que as palavras fossem ditas. Sabia quando era hora de me aproximar e quando era hora de recuar.

Capítulo 4 – As histórias da minha avó

Se existe um alicerce na minha vida que nunca desabou, esse alicerce foi minha avó paterna. Ela era mais que avó: era mãe, porto seguro, colo, abrigo, fé caminhando em forma de gente. E muito do que sou hoje nasceu das histórias que ela me contava.

Minha avó não sabia ler livros, mas carregava uma sabedoria ancestral escrita em sua alma. Era rezadeira, parteira, mulher de fé profunda. Recebera, ainda menina, o que chamava de “dom”: o dom de sentir, de perceber, de saber antes que acontecesse.

Ela dizia: “O corpo fala, meu filho. O espírito fala também. Basta escutar.”

Histórias de cura e proteção

Ela contava sobre partos que fez — alguns fáceis, outros difíceis, outros milagrosos. Contava sobre rezas que curavam, sobre promessas pagas, sobre mulheres que chegavam desesperadas pedindo ajuda. Contava também sobre sonhos que avisavam, presságios e sinais que não devia ignorar.

Minha avó dizia: “Quando o coração aperta sem explicação, não ignora, não. Isso é aviso.”

Minha sensibilidade aos olhos dela

Minha avó dizia que desde pequeno eu tinha um “espírito aberto”, que sentia mais que os outros, que percebia as intenções das pessoas. Por isso, me benzia com frequência, ensinava orações e me orientava a respeitar essa sensibilidade, não temê-la.

O que ficou dela em mim

Foi com ela que aprendi que dor não é sentença — é experiência. Que sofrimento ensina, mas não pode aprisionar. Que fé não é teoria — é prática. Grande parte da minha forma de ver o mundo, de acolher pessoas e de exercer meu dom sensível vem diretamente das histórias que ela me contou e da maneira como me amou.

Capítulo 5 – Crescendo sensível

Crescer, para mim, nunca foi apenas uma questão de idade. Eu cresci pela necessidade. Cresci pela dor, pelo ambiente, pelas responsabilidades impostas muito cedo. Mas também cresci por algo que não vinha de fora — vinha de dentro. A sensibilidade, que desde pequeno se manifestava como intuição, empatia e percepção aguçada, começou a se tornar parte estruturante da minha identidade.

Sentir antes de saber

Enquanto outras crianças corriam e brincavam sem preocupação, eu observava. Observava expressões, silêncios, gestos, tons de voz. Percebia quando uma discussão estava por vir, quando alguém escondia tristeza, quando o clima da casa mudava sem explicação.

Empatia como herança

A convivência com minha avó, tão acolhedora e disponível ao outro, fez brotar em mim uma empatia natural. Eu sentia a dor dos outros como se fosse minha. Não conseguia virar o rosto.

O preço de sentir demais

Ao mesmo tempo, essa sensibilidade tinha um preço. Eu absorvia tudo: tensões, preocupações, medos que não eram meus. Como ainda era menino, não sabia separar o que me pertencia do que era do outro.

Minha avó me ensinou: “Nem tudo que você sente é seu. Aprenda a separar.”

Esse foi um dos maiores aprendizados da minha vida: perceber que sentir não significa carregar, e que intuição é guia, não condenação.

Capítulo 6 – Juventude, escolhas e caminhos

A juventude, para muitos, é tempo de descobertas leves. Para mim, foi tempo de escolhas sérias, trabalho intenso e decisões que definiriam o rumo da minha vida. Não havia espaço para muita aventura: havia necessidade, responsabilidade e cuidado com quem dependia de mim.

Trabalho e estudo

Aos dezessete anos, comecei meu primeiro emprego com carteira assinada, após minha mãe assinar o termo de emancipação. Já trazia no corpo a experiência de anos de trabalho informal, mas agora iniciava um novo ciclo, mais estruturado. Em 1996, concluí o curso técnico em Contabilidade — um marco para quem havia começado a vida entre a feira e a casa simples de dois vãos.

Meu pai, a doença e o perdão

Por volta de 1992, meu pai adoeceu e perdeu o emprego de frentista, onde havia trabalhado por cerca de dezoito anos. Em 1998, passou a morar na casa do fundo conosco. Nosso relacionamento era difícil, marcado por agressões, medos e silêncios. Ainda assim, cerca de um ano antes de sua morte, escolhi perdoá-lo. Decidi amá-lo como pai, apesar de tudo.

A manhã de 2 de julho de 1998

Na manhã de 02 de julho de 1998, ele reclamou de dores fortes no peito. Pedi conselhos à minha avó, que orientou preparar um chá de folha de mamão. Enquanto eu estava na cozinha, ele começou a se contorcer. Corri até o quarto: meu pai faleceu nos meus braços.

Carregar aquele corpo que um dia me assustou e, naquele momento, apenas sofria, foi uma experiência que jamais esqueci. Doeu, mas também selou, de alguma forma, o ciclo do perdão que eu havia iniciado.

Educação e serviço público

Em 2004, fui aprovado em concurso para o cargo de Técnico em Contabilidade na Prefeitura de Alagoinhas, sendo convocado em 03/09/2007. Em agosto de 2010 ingressei na graduação de Ciências Contábeis, concluída em junho de 2014. No mesmo ano, fui aprovado em processo seletivo para professor substituto na Universidade Federal de Sergipe, onde atuei entre 2015 e 2016.

Amor, filhos e recomeços

Em 2000, nasceu meu primeiro filho, fruto do primeiro casamento. Mais tarde vieram outros relacionamentos, o segundo filho em 2018 e, em 2022, a paternidade socioafetiva de uma filha. Em todos esses ciclos, decidi algo fundamental: não repetir a ausência e a agressividade que eu havia vivido. Escolhi ser um pai presente e amoroso.

Capítulo 7 – Gratidão, legado e continuidade

Chegar até aqui é reconhecer que minha história não é feita apenas de dores, nem apenas de superações, mas de um conjunto profundo de experiências que moldaram minha identidade. Sou feito de memórias, de pessoas, de silêncios, de lutas, de fé, de sensibilidade e de escolhas.

Gratidão que sustenta

Minha avó paterna foi a primeira raiz da minha vida. Ela me deu abrigo quando eu não tinha abrigo, amor quando eu não recebia amor, fé quando tudo parecia desabar. Muito do que sou nasceu da forma como ela me olhou, me acolheu e acreditou em mim.

Legado que escolhi deixar

Meu legado não será medido apenas por títulos ou cargos, mas pela forma como escolhi usar minha sensibilidade. Como pai, desejo deixar o exemplo de presença. Como professor, desejo deixar o exemplo de respeito e empatia. Como ser humano, desejo deixar a marca da compaixão.

Continuidade da missão

Hoje entendo que sentir profundamente não é fraqueza — é privilégio. É um modo de enxergar o mundo com mais humanidade. Sigo vivendo com essa consciência, buscando cuidar das pessoas que Deus coloca no meu caminho, honrando a história que vivi e os que caminharam comigo.

Este livro é memória, cura e legado.
Meu legado é amor.

Sobre o autor

Jozenei Silva Pereira é professor, contador e servidor público. Nascido em 1973, na cidade Feira de Santana, Bahia, em uma realidade marcada por pobreza, conflitos familiares e trabalho precoce, construiu uma trajetória de superação que uniu sensibilidade, fé, estudo e serviço.

Graduado em Ciências Contábeis, Mestre Para o Ensino ds Ciências Ambientais, Doutorando em Ciências Contábeis, Pesquisador e com atuação em ensino superior, Jozenei dedica boa parte da sua vida profissional à educação e ao serviço público, especialmente na área contábil. Em sala de aula, é reconhecido pela empatia, pela escuta atenta e pela capacidade de conectar teoria e experiência de vida.

Pai de filhos biológicos e socioafetivos, vê na paternidade uma das maiores missões da sua existência. Em sua caminhada, carrega como marca a preocupação com crianças, com mulheres e com pessoas em situação de fragilidade, fruto direto da história que viveu na infância.

Minhas Memórias Sensíveis é seu relato autobiográfico, escrito com a intenção de deixar um registro para a família, para os alunos e para todos aqueles que, assim como ele, aprenderam que a sensibilidade não é fraqueza — é sabedoria. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pereira, Jozenei Minhas memórias sensíveis [livro eletrônico] / Jozenei Pereira. – Alagoinhas, BA: Ed. do Autor, 2025. HTML ISBN 978-65-01-82905-0 1. Memórias autobiográficas 2. Pereira, Jozenei 3. Professores – Autobiografia 4. Superação – Histórias de vida I. Título. Índices para catálogo sistemático: 1. Professores : Autobiografia 370.9 Eliete Marques da Silva – Bibliotecária – CRB-8/9380

Autor: Professor Jozenei Silva Pereira

Contra-capa do livro Minhas Memórias Sensíveis